sábado, 27 de fevereiro de 2016

Reflexões Sobre a Velhice

Na velhice, perdas nos são acumuladas. Já desapareceram de nosso convívio parentes e amigos amados. Por nosso estado de fragilidade, renunciamos à visitas e conhecimentos de novos belos locais. Uma perda, por certo. Além disso, nossa total autonomia se vai, quando já filhos ou auxiliares nos são necessários para vencermos o mínimo de nosso cotidiano: Galgarmos pequenos obstáculos tais como uma rua íngreme ou uma simples escada.        

O florescer da sabedoria.
   
Porém, a compensação a tudo isto nos vem como dádiva, quando da velhice nos chega seu mais precioso ganho: A interiorização.  Estarmos a sós com os nossos pensares se torna algo incalculavelmente prazeroso. As lembranças felizes do que bem plantamos resultam em alegrias de uma farta colheita; os momentos dolorosos que nos atingiram nos chegam amenizados, compreendidos, sem a violência que no passado causaram. Contudo, tal interiorização não significa um alheamento ao mundo externo. Muitos pensam erroneamente, que a velhice anula o entusiasmo pelo que nos cerca, que causa uma espécie de indiferença.
   Tais pensamentos se contrapõem à minha própria verdade. O que realmente senti mudar em mim, nos tantos anos já decorridos, foi a maneira de enxergar coisas, ambientes e principalmente pessoas.  Ultrapassa-se na velhice aquele primeiro estágio de ver o mundo como se o estivéssemos conhecendo apenas na superfície, por suas formas aparentes, externas. Ultrapassa-se também aquela visão que racionaliza pessoas e coisas, as critica ou elogia, segundo a cultura em que estamos inseridos. Deixa-se para trás especulações racionais e se vai, além disso.  Alcança-se um ver que desnuda apenas aquilo que cada pessoa traz em si, sem distinções: O desejo de felicidade. Pressente-se com mais facilidade o estado íntimo de alguém. Ama-se mais quem já sempre se amou. Passa-se a amar a quem nos era indiferente.
   Nas cores da natureza quer se adivinhar o artista oculto que a pintou. E, num maior deslumbramento interno, acabamos por nos identificar a Ele. A natureza torna-se então mais esplêndida, porque é mais intensamente percebida.  
  Nossas manifestações externas não sendo tão exuberantes, pelas limitações pertinentes à velhice adquiriu, enfim, como ganho, o surpreendente reforço de um sentir mais pleno.

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