segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Por que me Apego à Jesus

Porque suas mensagens tratam da imanência divina, Isto é: Deus está dentro de nós. Ao contrário de religiões que tratam da transcendência: Deus está longe de nós. Jesus é bem claro quanto cita várias vezes Deus e o “Reino dos Céus”. Quando seus discípulos o interrogam: Quando virá o” Reino dos Céus”? Ele responde:” Na verdade ele já está dentro de vós.” E, diz mais “Procura o Pai (Deus) dentro de ti e tudo o mais te será dado em acréscimo”.
   Não me apego à história factual de Jesus. Importa-me apenas as suas mensagens de amor. Hoje, historiadores dedicam-se a mostrar os erros que aparecem nos evangelhos de Marcos, Lucas, Matheus e João, a respeito da vida de Jesus, fatos que não têm fundamento histórico se colocados na sociedade judaica de sua época. Acredito, sim, que estes apóstolos que tanto amaram seu mestre, quisessem fazer dele o messias esperado, pondo nos evangelhos fatos que coincidissem com as escrituras judaicas que profetizavam a vinda de um messias. Contudo, continuo tão somente me apegando ao grande amor, muito raro que ele mostrou pela humanidade. Penso nestas suas palavras: ”Perdoa o teu inimigo não sete vezes, mas sete vezes sete.” Também nesta: ”Amar a Deus (Deus como força que ele considerava interna a nós) sobre todas as coisas, e amar ao próximo como a si mesmo, nisto reside todas as leis e todos os profetas”.
   Não sou deslumbrada pelos seus “milagres”. Acredito que Jesus tivesse um completo domínio sobre a sua mente, conseguindo os fenômenos que ela produz. Hoje, muitos paranormais realizam fenômenos semelhantes. Porém muitos também cobram absurdos por seus trabalhos e exibem muita vaidade. Poucos mostram a misericórdia e a grandeza amorosa de Jesus.

   Quando o Sufismo, uma dissidência do Islã, aderiu à imanência divina, com seus membros voltando-se para o seu Deus interno, o Islamismo viu nisto uma heresia e o perseguiu. Quando Rumi, o grande mestre sufi, deixou claro em seus versos que após procurar Deus de templo em templo, o foi encontrar em seu coração, muitos não reconheceram a sua verdade.
 Não me apego às teorias como as aparecidas no livro “O Código da Vinci” ou as do livro “O Santo Graal e a Linhagem Sagrada”. Sucessos de vendas, que tal como um sensacionalismo jornalístico, rendeu a seus autores altas tiragens.
  Não me importa se Jesus era casado ou solteiro, se teve ou não filhos, que tipo de relacionamento tinha com Maria Madalena, qual a sua descendência. Não me importo tampouco com os dogmas da Igreja. Nasceu-se de uma virgem, se subiu em corpo aos céus. A única coisa que realmente me impressiona em Jesus é a sua profunda humanidade, a sua universalidade, a sua visão de uma força divina a que chamava de Pai, Deus, presente nele e em nós.
  Surpreende-me a preocupação de Jesus em levar seus discípulos a se interiorizarem dizendo-lhes; “Orai e Vigiai” Orar: o contato com sua fonte interna. O Vigiai: o cuidado com seus próprios comportamentos.
   Lendo os evangelhos, faço como um agricultor que procurasse o trigo entre um campo minado de mato e joio. Separo apenas as palavras plenas de amor de Jesus, são, enfim, elas que me contagiam.

Chacras, Sons e Perfumes


Cada um de nossos chacras vão sendo ativados um a um à medida que vamos evoluindo. Quando aparecemos como homem eréctus, o nosso chacra básico, fundamental, foi ativado Este chacra que abrange a nossa sexualidade, era necessitado para o maior povoamento da terra.  Quando o clima frio fez o homem necessitar alimentos mais fortes, o chacra umbilical surgiu como prioritário. Porém, ao ser preciso um maior refinamento nas energias destes alimentos , passamos a seleciona-los com o desenvolvimento do baço. Na região abdominal do terceiro chacra esta depuração passou a ser feita. O chacra cardíaco foi desenvolvido quando da criação dos clãs familiares, que fez surgir um amor grupal protetor, mas ainda muito ciumento e exclusivista. Tivemos também a ativação do chacra laríngeo quando começamos a desenvolver a linguagem, cada povo desenvolvendo uma parte do seu aparelho fonético. Hoje, caminhamos para o aprimoramento do chacra intercílio e, eventualmente, do pituitário.
   Em cada uma das fases evolutivas houve a necessidade de recebermos energias externas para desenvolvê-las. Tais energias vinham de sons e perfumes. Já sabemos que o corpo etérico é o grande vitalizador do corpo físico. Vitaliza-o através dos chacras, assimilando odores e sons.
   Podemos considerar o desenvolvimento dos 3 chacras inferiores para atender necessidades básicas de sobrevivência, muito necessários aos povos primitivos.
   Quando as tribos primitivas usavam a batida de tambores, de atabaques e chocalhos feitos com materiais como ossos, dentes, conchas, eles faziam vibrar os chacras inferiores , os ativando. No estudo da música, sabemos que ela também acompanha a evolução usando instrumentos cada vez mais sofisticados.


   A música primitiva é puro ritmo, o som do tambor é estanque, não possui ressonância. Diz o xamanista que o bater do tambor corresponde à batida do coração da terra. No desenvolvimento dos chacras inferiores o homem está ligado à mãe terra, ao subterrâneo da terra.
   Na identidade homem e natureza, os sons batem na terra voltam e retornam aos chacras dos homens. Assim, quando o atabaque é batido ele vibra no interior da terra e vibra depois no homem. Nossos chacras inferiores são nossas bases, como o subterrâneo da terra é a base do planeta. A dança com batimento dos pés no chão dos selvagens fazem vibrar o solo e lhes proporciona um retorno, os ligando à terra, por isso dançam batendo com os pés no chão. A dança, na evolução do homem, movimenta primeiramente os chacras inferiores. Então, ainda vemos muitas tribos se curvarem na dança, quando a dança ainda está muito ligada à terra. Outras tribos dançam eretos apenas batendo com os pés no chão. No aprimoramento da dança vemos o balé clássico cuja finalidade é atingir os chacras superiores. Podemos observar a bailarina na ponta dos pés tentando se distanciar da terra e o bailarino procurando sempre levantar a companheira. No dançar de certos gênios da dança, temos a impressão de que levitam, saem do chão. Porém, ainda encontramos certos povos, como o povo russo, que usam as duas práticas: o levantamento do balé, mas também o bater dos pés na terra.
    Os homens muitos primitivos tinham também um percebimento dos sons menos apurados que o nosso, por razão dos órgãos da audição estarem ainda em desenvolvimento. De princípio, percebiam dos sons dos pássaros somente aqueles mais metálicos , depois ,com a melhoria da audição, passam a perceber os cantos mais sonoros. Ao tentarem imitar tais sons sonoros, criarão as flautinhas de bambu, osso, etc. Assim, todos os instrumentos foram criados e sendo sofisticados para atender ao evoluir de nossos sentido e dos nossos chacras.
   É na própria natureza que estão os sons que farão o primitivo evoluir e começar a ascender aos chacras superiores.
   Ao ouvirmos sons de atabaques primitivos, somos levados à lembranças inconscientes de nossas passagens dentro de tribos, revivemos com nostalgia ou alegria épocas vividas em vidas passadas, uma vez que os nossos períodos evolutivos foram degraus do nosso evoluir.
   Quanto aos odores, da mesma maneira a sua volatização vai tocar diretamente o nosso corpo vital. O cheiro da carne vitaliza o homem primitivo. Porém não condiz com o nosso estágio de evolução atual, nos sendo então desagradável.
   O selvagem sentia-se atraído por certos cheiros que obtinha também através de mascar certas ervas, ou aspirando-as usando cachimbos, ou ainda besuntando-se com sumos de madeiras cujos odores ativavam seu corpo vital e chacras.
   O chacra laríngeo era tão fraco nos homens do primitivismo mais remoto, que estes só conseguiam emitir grunhidos , Depois, pela assimilação de sons e perfumes mais delicados, por seus sentidos mais desenvolvidos, seu chacra laríngeo possibilitou a sua comunicação através da fala.
   Pelo conhecimento do valor dos perfumes, muitos homens civilizados servem-se ainda do seu recurso para usa-los em magia, como foi o caso na Idade Média ,quando o odor forte do enxofre foi tão aproveitado para este fim.
   Contudo, temos a certeza de que músicas clássicas e perfumes, condizentes com a nossa evolução, sendo usados com frequência em meditações e sendo ouvidos em nosso cotidiano nos levarão ao desenvolvimento dos nossos chacras superiores e consequentemente à evolução de cada um de nós.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Mitos do Feminino

Nós, mulheres, reveladas nos mitos das deusas.
   
    Os gregos arcaicos durantes séculos de matriarcado dedicaram-se ao culto da Deusa, que unificava em si inúmeras qualidades. Ela era sua religião. No entanto, quando foram invadidos por um povo guerreiro,viram introduzidos em suas regiões o culto a Zeus e seu patriarcado.
    A deusa rendeu-se a Zeus. E, o seu antigo poder, a bem de ser preservado, foi desmembrado na devoção à várias deusas. Cada uma delas uma facção, uma virtude daquela fonte de energia feminina original, cultuada.
    Hoje, em nossa modernidade, acreditamos que nós, mulheres, carregamos em nosso inconsciente estas forças energéticas arcaicas. Psicólogos preferem chama-las de “arquétipos femininos”. Vemos pós Junguianos nos atribuindo e nos trabalhando segundo características de seis principais deusas: Hera, Demeter, Afrodite, Artemis, Atená e Perséfone. 
    Essas divagações que se seguem abordarão alguns destes arquétipos nos relacionando com os mitos femininos destas deusas. Estarei as pondo aqui como pertencentes a dois grupos: Aquelas mais vulneráveis, cujo viver está conectado a relacionamentos com companheiros, como Demeter, Hera, Afrodite, e Perséfone, e as deusas virgens mais independentes como Atená e Artemis.
    Relacionando-nos às deusas, nos chamarei de mulher/Artemis, ou mulher/ Afrodite etc, etc..   

ATENÁ, deusa da Justiça, comporta-se com firmeza e impulsividade perante os desrespeitos humanos, mas apesar de sua beleza severa, tem o coração aberto a depois também perdoar. Senão, vejamos um mito seu:
    O jovem Tirésias ouve numa mata o barulho de uma cascata e se aproxima dela. Porém, é lá que Atená costuma banhar-se. Deslumbrado pela nudez da deusa permanece ali parado, com seus olhos insistindo em contempla-la. Atená se encoleriza e, como castigo, o torna imediatamente cego. Porém Cárilo, mãe de Tirésias, amargurada pela infelicidade do filho, lamenta-se à Atená. Esta apieda-se e sente que fora demasiado rígida. Resolve então conceder a Tirésias a visão interna, lhe dando o dom de adivinhar. Fez de Tirésias o mais famoso adivinho da Grécia.
    Será apenas Tirésias que já então velho e cego, mas sempre capaz de adivinhar passado e futuro, quem desvendará na tragédia mitológica de Édipo, o mistério do assassinato do rei Laio. Dirá a Édipo: Matastes vosso próprio pai!  Sois o criminoso matador que tanto procurais!
    Os pensamentos de uma mulher/Atená, influenciada pela deusa, que é também a da Sabedoria, sempre ultrapassará as fronteiras do lar, porque ela percebe e tem sensibilidade voltada ao mundo social que a rodeia. Tem sonhos de reformar instituições e lutar pelas condições de minorias injustiçadas. A política ou pesquisas científicas que possam melhorar a saúde e diminuir a ignorância de populações, geralmente a atraem como campos de ação.
    Quer sempre a verdade, uma visão que desnude o que está por trás dos problemas sociais. Por isso, em representações mitológicas, Atená aparece carregando seu símbolo: Uma coruja. Animal que caracteriza a reflexão que domina as trevas, tão perspicaz que enxerga no escuro.
    A sabedoria de Atená- nos revela o mito- supera qualquer presunção competitiva, vinda de conhecimentos. É pura. É humilde. Está a salvo de concorrências.  Este mito a seguir nos conta que a deusa Atená irritava-se quando via a vaidade intelectual ou artística tomar conta de alguém, levar rivalidade às pessoas.
    Aracne era uma exímia tecelã. Porém, tão presunçosa ficou por tantos elogios recebidos que resolveu um dia desafiar a deusa Atená para ver qual das duas era a mais habilidosa. Ora, Atená sempre fora conhecida no céu do Olimpo, como aquela tecelã que ornava as paredes de seus palácios com os mais belos bordados que tramava sobre tecidos e telas, com fios de prata e ouro. Não gostou nada daquela falta de modéstia exibida por Aracne que, enquanto tecia, declarava-se  a única  e insuperável bordadeira. Tentou fazê-la desistir daquela rivalidade disfarçando-se numa velha senhora de cabelos brancos que aconselhou-a  a não vangloriar-se tanto, tentou fazê-la ver que era a suprema vaidade mortal quererem se igualar a imortais. Contudo, Aracne não aceitou tais conselhos. Ao contrário, passou a desafiar mais a deusa. Pôs em seus bordados episódios que representavam os defeitos dos deuses olímpicos, bem sabendo que Atená  os enaltecia em suas telas, mostrando nelas  tudo o que os deuses faziam pela evolução dos homens.
    Veio então da deusa justiceira a lição: Transformou Aracne  numa aranha, condenou-a a trabalhar pendurada nas alturas. É de lá que  tecerá suas teias delicadas que os ventos podem destruir com a maior facilidade. Mostrou a Aracne quão frágeis são as criações humanas.
    Assim nasceram as aranhas que hoje vemos tecendo suspensas.
    Como os gregos viam a sábia Atená como fonte de inspirações artísticas e culturais, contavam com um magnífico  festival em sua honra. Nele, eram promovidas apresentações de poesias, músicas, cantos e danças. Aos vencedores  eram dadas ânforas cheias de azeite de oliveiras, a planta sagrada de Atená.
    Em geral, as mulheres/Atená gostarão de reunir amigos em saraus caseiros onde aqueles podem externar seus talentos artísticos.

    Do Matriarcado nos vem também a face de AFRODITE , a sedutora:
     Para sabermos se pessoalmente retemos em nós as energias de Afrodite veremos o seu mito: 
    Quando Páris, o príncipe troiano, foi chamado a arbitrar  a disputa entre as três deusas Hera,Atená e Afrodite quando seria dada a apenas uma delas uma maçã de ouro, com os dizeres “a mais bela”, sua decisão causou a guerra de Troia. Na ocasião, as três deusas, cada uma se achando com direito à maçã, ofereceu a Páris uma recompensa, caso fosse a escolhida.
    Hera disse a Páris:  - A ti darei uma esposa fiel, que te acompanhará em todos os teus atos criativos, administrativos,que será para ti a companheira que te ajudará em todos os problemas que surgirem no reino de teu pai que por ventura vieres a herdar.
    Atená lhe promete: - farei de ti um guerreiro justo, e garantindo-te a vitória em todas tuas batalhas, te tornarei o mais renomado herói que Troia já conheceu.
    Porém,o que lhe prometeu Afrodite pareceu-lhe a recompensa mais tentadora: - Darei a ti, Páris, a mulher mais  cativante de toda a Grécia.
    Paris fez de Afrodite a vencedora,deu a ela a maçã de ouro. Qual a razão de tê-la privilegiado
assim? Porque imaginou na mulher que lhe seria dada ,os mesmos atributos  que via em Afrodite. Embora as três deusas fossem todas belas , ele via Afrodite mais faceira no vestir-se e principalmente  com uma forte e inigualável sensualidade, característica a qual poucos homens resistiam. Mostrava isso em seu jeito de sorrir,de olhá-lo e de caminhar.
    Na verdade,para Afrodite, não importava muito que a mulher que estava pensando em dar-lhe já fosse casada com o  rei de Esparta. Porque, para Afrodite, nenhum ato sexual levava a ela própria qualquer resquício de culpa. Até quando eventualmente traia  seu companheiro,o fazia sem remorsos, pois resistir a sua forte tendência sexual lhe era quase impossível. Os instintos, o sexo, lhe era realmente vital. Assim, havia traído com o deus Marte, o seu marido ,o deus Vulcano, o maior artista do Olimpo ,que a cobria de joias que ele mesmo forjava ,para atender o grande pendor de Afrodite por  requintes.
    Hoje, em nossa modernidade ,este seu gosto por requintes  aparece naquelas mulheres que  se envolvem com artes joalheiras, e modas ,sem que necessariamente assimilem dela também seu irreprimível instinto.
     A inconstância era outra característica de Afrodite. O mito nos conta:
    Helena ,a mulher mais cativante da Grécia,influenciada que foi por Afrodite, abandonara seu
marido para seguir Páris à Troia. Porém, sua paixão por ele durou apenas enquanto a guerra se desenrolava, pois, logo que esta acabou, voltou novamente aos braços de seu marido Menelau.  E, este, perdoou-a? Certamente. Quem não perdoaria e amaria sempre, alguém com tantas qualidades  como uma Afrodite?  Convenhamos que não são apenas tendências sensuais que determinam alguém que seja à semelhança desta deusa. O próprio desejo por requintes das mulheres/Afrodite a fazem tornar o seu lar aconchegante, cheio de flores e adornos. Quererá sempre levar beleza aos locais onde vive. Além disso, ligada à figura masculina como é,  dedica-se com carinho a preparar  saborosos alimentos  com que mimará o companheiro. Geralmente as mulheres/Afrodite aprimoram-se como ótimas cozinheiras. Contando com uma personalidade quase dupla, maleável, lhe será também muito amiga durante situações adversas que ele por ventura vier a sofrer.  É também muito atenciosa com pessoas humildes apesar da sua própria aparência requintada.
  Aquela inconstância  sexual de Afrodite  a faria um dia ter um filho com os dois sexos. Assim nos conta o mito:
  Afrodite relacionou-se também com Hermes. Ao filho que geraram juntos chamaram de Hermafrodito, fundindo assim num só nome Hermes e Afrodite, prova de quanto era grande sua paixão no momento. Contudo,muito prontamente cansou-se de Hermes e querendo esquecer aquele adultério,enviou Hermafrodito para um monte aos cuidados de  Ninfas. Criado como foi apenas entre mimos femininos, quando rapaz, Hermafrodito passou a recusar seu próprio sexo.
   Herdara a beleza da mãe e um dia despiu-se para  banhar-se num lago. Salmácida, que por ali passava, viu-o e foi tocada por grande paixão. Despiu-se também e entrou nas águas.Tudo fez para tê-lo,mas Hermafrodito timidamente recusava-se. Humilhada,Salmácida abraçou-o fortemente no intuito de jamais perdê-lo.Rogou aos deuses que os tornassem um único corpo. E, foi assim que Hermafrodito pela segunda vez fundido num só, ficou para sempre com dois sexos.
    Aquela carência de Afrodite por encontros amorosos por vezes a deixava vulnerável a vinganças. Assim  aconteceu-segundo o mito-quando Zeus quis castiga-la por trair seu marido Vulcano com Marte. Desejou sobretudo humilha-la. Fez Afrodite encontrar por acaso e apaixonar-se pelo pastor Anquises, que, embora sendo belíssimo ,era afinal apenas um humilde mortal.
    Quando o encontrou, por magia de Zeus, a face de Afrodite foi transformada no de uma jovem também linda ,mas absolutamente diversa da sua. Sem reconhecer a deusa, mas tocado  pela  beleza daquela falsa jovem, Anquises lhe fez a proposta de dividir o leito com ele aquela noite. Afrodite, que não era imune a presença de um homem tão belo e atiçada por sua irreprimível sensualidade , aceitou. Após muitos momentos de prazer ,quando acordaram pela manhã, também por magias de Zeus, lá estava novamente Afrodite revelando sua face  radiosa.
     Quando Anquises  a olhou, reconheceu-a e transtornou-se, amargurado. A pior coisa que lhe poderia ter acontecido é estar apaixonado por uma deusa. Aquele era um relacionamento sem esperanças e futuro pois enquanto ele iria envelhecer pouco a pouco, encaminhando-se para a inevitável decrepitude e morte, ela ,como imortal que era, continuaria eternamente deslumbrante como ele agora a via. Além disso, Anquises tomou-se de pânico, temeroso de que recebesse uma punição por sua ousadia.
    Afrodite serenou-o. Disse-lhe que o perdoaria sob uma condição:  Que jamais  contasse para alguém sobre aquela sua noite de amor. Na verdade, Afrodite nunca sentira tanta vergonha e humilhação. Afinal, ela, uma mulher que já fora desejada pelos mais afamados deuses do Olimpo, havia se entregado a um simples mortal.
  Em geral, Afrodite ,tão sedutora, dominava um relacionamento, mas eventualmente sua predileção por refinamentos a jogava aos braços de homens  poderosos  e vis que a usavam, expondo-a à situações constrangedoras.
    Também as mulheres /Afrodite que não têm a firmeza das deusas virgens, independentes do homem como Artemis e Atená, quando passam por tais  decepções,sofrem e eventualmente  amadurecem e evoluem muito espiritualmente.

     Já a mulher/HERA tende a administrar com rigor e disciplina tanto um lar ou em âmbito maior até um país.  Para o grego antigo, Hera representava a administração cotidiana do Olimpo, aquela que garantia que os adornos magníficos forjados por Vulcano estivessem limpos e lustrosos ; que as telas bordadas por Atená nunca faltassem para adornar paredes;  que Hebe, a deusa da juventude ,sempre desse aos deuses a ambrosia ,o néctar que lhes conservaria a imortalidade. Com autoridade, Hera sempre  mantinha a união dos deuses em sua convivência diária.
    Os artistas da Renascença a retratariam depois como uma mulher bela, de corpo escultural, destacando nela uma aparência de dignidade e severidade. Porém, em que pesasse o seu rigor, Hera não era desligada, nem  tão independente em suas emoções de uma presença masculina como o eram as deusas Atená e Artemis. Mesmo naquela relação amorosa como a que tinha com o seu namorador marido Zeus, ao ser traída, sempre procurava trazê-lo de volta, chamando-o a  amá-la novamente,  mas também às responsabilidades do lar. Não era ligada ao aspecto amor instinto insaciável, tal como o sentia Afrodite, mas dava uma fidelidade constante ao companheiro ,vendo o amor como um compromisso assumido.
   Hera não suportava as mulheres que o quebravam. Deusa ciente de que devia exemplificar a mulher como mantenedora das tradições familiares, achava que o primeiro sinal da decadência de uma sociedade era a decadência da mulher, por isso, usava de rigor  com aquelas que infringiam suas leis morais.  Vejamos o que nos conta o mito:
    Eco era uma ninfa que testemunhava e sabia dos namoros de Zeus com outra ninfa do bosque onde vivia. Um dia, Hera lá apareceu em busca de seu marido. Eco, que tinha muita facilidade em expressar-se e era bastante tagarela, tentou entreter Hera numa longa conversa  envolvendo-a para dar tempo  a que Zeus  fugisse do bosque ,escapulindo-se de um flagrante. Hera porém, percebendo sua intenção, resolveu penalizar aquela menina tão falante que queria enganá-la.Deu-lhe logo um defeito na fala que a fazia repetir sempre a última palavra que alguém dizia.
     Eco ,humilhada, pois  todos  passaram a debocha-la, foi  esconder-se em cavernas e locais murados , onde ninguém a visse. Não pode mais viver no espaço aberto , amplo  do bosque.           Por esta razão ainda hoje ,sempre que  adentrarmos um local murado que nos oponha uma parede, e dissermos algo, o som de nossa voz voltará a nós, pois lá estará Eco a nos repetir.
    Hera não concordava com todos aqueles que davam aos namoros  de Zeus esta finalidade: Multiplicar o números de mortais agraciados  com atributos maravilhosos, semideuses  e semideusas gerados entre Zeus e as filhas dos homens. Não os aceitava. Com o mesmo rigor que caracteriza todas as mulheres/Hera, via estes frutos dos namoros de  seu marido, apenas como uma evidência de sua grande licenciosidade. Perseguia-os para que sumissem. Assim fez com o possante Hércules -segundo o mito:
    Hércules escapou de sua fúria quando bebê, mas, ao fazer-se adulto, submeteu-se a cumprir as “ 12 Tarefas” que o rei Eristeu lhe impôs para que se redimisse do crime de infanticídio que fizera quando Hera provocara nele, com magias, acessos de loucura.
    Hera imaginava que tais tarefas ,tão terrivelmente difíceis, o faria senão morrer, pelo menos ser humilhado por um fracasso, vencido em sua tão admirada fortaleza.
    Contudo, como toda a mulher/ Hera , ela podia também mostrar-se por vezes generosa. Assim o mito nos conta que, ao reconhecer o valor de Hércules, seus   incríveis  esforços para cumpri-las, o compensou largamente. Recebeu no Olimpo , sua própria  moradia,aquele  filho espúrio de seu marido; deu-lhe como esposa a encantadora Hebe,e ainda mais: Agraciou-o com o nome de Héracles, que significa “A gloria de Hera”.
    Também Dionísio ,outro filho bastardo de Zeus, foi desterrado  por Hera para as distantes terras da Arábia. Porém foi lá, que  encontrou uma plantinha nativa , a videira,  e com ela fez o vinho que o tornou famoso, arrastando multidões para o seu séquito.
    Hera, tão rigorosa, foi justa.  Quando percebeu que o vinho não era apenas aquela  bebida que propiciava a orgia dos bacanais, mas que  sorvida numa medida certa , controlada, trazia inspirações aos poetas,levava os homens a êxtases espirituais ,podendo ser usada em cultos para homenagear os deuses, foi novamente generosa: Colocou também Dionísio entre os deuses para torná-lo o grande e insubstituível auxiliar de Demeter em suas lidas agrárias.
    Muito severa com suas rivais, amava contudo, intensamente seu marido, como só as mulheres/Hera, fortes como ela, sabem amar e, invariavelmente, o perdoava. Zeus voltava sempre a seus braços, ficava  desorientado quando ela eventualmente o deixava ,pois via nela o único aconchego amado ,seguro e fiel.

    ARTEMIS é uma deusa  virgem. É arisca e temerosa em matéria de amor. Teme sobretudo as dores da maternidade. Isto é justificado no mito de sua mãe Lete:
    Esta, amante de Zeus, estava para parir os gêmeos Apolo e Artemis, filhos dele. Porém Hera, esposa de Zeus,a fez viver um grande sofrimento. Pediu a deusa dos partos Ilítia ,que foi parteira de todos os deuses do Olimpo, para que cruzasse as pernas direita sobre a esquerda. Enquanto elas estiveram assim cruzadas, o caminho dos nascimentos estavam fechados.  Isso durou nove dias e nove noites de dores dilacerantes para Lete.
    Horrorizada pelos sofrimentos que sua mãe passara no parto, Artemis jurou nunca se relacionar com homens para  jamais  ter filhos. No entanto, tornou-se a grande protetora  das mulheres grávidas. As jovens esposas consagravam a ela  inúmeros  cultos porque contavam com sua proteção na hora do parto. Artemis iria energizar e guiar , desde os velhos tempos mitológicos gregos , as  mãos das velhas parteiras, que durante séculos  e séculos conseguiram chegar até a modernidade propiciando nascimentos.
    Artemis pediu a seu pai Zeus que lhe desse  arcos e flechas e ao deus Pan uma matilha de cães e recolheu-se à natureza selvagem. Solitária, e independente dos homens, foi dedicar-se à caça.
    Tornou-se aventureira , atlética, prática, amante da vida ao ar livre, protetora dos animais, como serão depois todas as mulheres/Artemis que recebem suas energias. Virá dela o pensamento daquelas que se atraem pela Ecologia, querem preservar o meio ambiente .
    Sua função como caçadora e ao mesmo tempo amiga dos animais  nos parece contraditória. Porém, Artemis representa a caça feita unicamente pela sobrevivência dos homens, jamais a caça predatória , protegia os animais em sua época de reprodução. Perseguia todos aqueles que maltratavam as fêmeas prenhas, em gestação. Caçava garantindo a continuidade de vida das espécies animais.
    Enquanto seu gêmeo Apolo é o deus relacionado ao sol, ela é a deusa da lua. Como tal, segue as suas fases  mutantes tanto estará ligada à  Selene ou à Hécate ,ser ora propícia ao bem ora a ser a feroz destruidora.
    A mulher /Artemis sofre esta inconstância não em sua vida amorosa mas em seu humor. No templo de  Éfeso, Artemis ,ligada à Selene, tinha seu culto estendido aos animais  que mais amava: o cervo, o javali, o touro, a vaca, e o cão e também às árvores de nogueira e de cedro.
    Quando ligada à Hécate, Artemis é a guerreira mais eficiente  da Grécia, senhora de poderes destruidores. Consagrou-se como tal, quando lutou bravamente ao lado de Zeus, na primitiva guerra da Gigantomaquia, ocasião em que seu pai tornou-se o todo poderoso senhor do Olimpo, após vencer os primeiros homens que- segundo os mitos gregos- habitaram a terra: os Titans  gigantes. Hécate , quando ligada à lua nova, é a senhora da magia ,bruxaria, sortilégios e Amuletos . Influencia  as mulheres que se dedicam à feitiçaria quando estão voltadas  à finalidades maléficas.
    Apesar da resistência a ter parceiros, amores frustrados podem acontecer à mulheres/ Artemis, nos diz a mitologia:  A única vez que Artemis apaixonou-se não foi bem sucedida. Quando viu o caçador Orion de porte forte e belo, aquela que queria ser a eterna virgem, logo apaixonou-se.
    Um dia porém, Orion foi banhar-se  no mar e se distanciou muito nele, até que sua figura  tornou-se apenas uma minúscula mancha na águas longínquas. Ali, chegaram à praia Apolo e sua irmã Artemis. Enxergaram a mancha no mar e Apolo, que é o deus solar com olhar abrangente, soube logo que se tratava do caçador Orion. Porém, preocupado  em zelar pela castidade de Artemis, nada lhe disse e quis aproveitar o momento para elimina-lo. Desafiou-a então ,em sua grande habilidade de exímia caçadora, propondo-lhe acertar uma flecha naquela distante mancha. Sem imaginar que iria ferir o próprio amado, com toda a sua capacidade de arremessar flechas, Artemis abre seu arco e lança a primeira. Estarrecida, viu chegar à praia o corpo morto de Orion
    Desconsolada ,vai a Zeus e pede-lhe que torne o amado numa das mais belas constelações que enfeitaria o céu. Assim ,estará lá sempre a brilhar em noites estreladas, sobre as nossas cabeças ,Orion, a magnífica constelação. Tal mito quis dizer as mulheres/Artemis que precisam sempre observar melhor o alvo, a meta que desejam atingir.

    Quanto à PERSÉFONE, seu primitivo nome era Core. Solitária, inadaptada ao mundo objetivo, vivia ensimesmada a pensar e sentir-se atraída pelos mistérios da vida e da  morte. Saber as razões do destino e das dores humanas era tudo o que mais lhe importava.  Porém, tais mistérios lhe pareciam tão imensos e indevassáveis que ao mesmo tempo os temia. Então gostava de pensa-los abrigada no aconchego do regaço de sua mãe Demeter. Era imaginar o desconhecido, protegida.
   Quem vai fazer Core entrar na realidade de seus sonhos  e atrações pelo oculto –nos diz o mito- será Afrodite. Esta, percebendo a solidão em que  vivia o soturno senhor do mundo dos mortos Hades e como não suportasse  ver alguém solitário, pediu a seu filho Eros que o flechasse com sua seta do amor. E, então aconteceu de ser justamente a tímida Core a primeira jovem a ser avistada  por Hades após ter sido flechado. Logo apaixonou-se e a quer. Foi pedi-la à Demeter.  Esta , maternal  protetora que era, sabendo para que abismos sombrios o deus da morte a levaria, prontamente  recusou dar-lhe Core.
   Enlouquecido de paixão, Hades só tem um recurso: Rouba-la à força. Foi o que fez. De nada adiantaram os gritos angustiados de Core chamando sua mãe, quando se viu arrebatada em seus poderosos braços. Demeter, por sua vez, iria viver seu pior período de vida: o da ” Mater Dolorosa”. Separada de sua meiga  e insegura filha, vagaria em prantos pelos campos à sua procura.Tira a atenção  de seus trabalhos com o solo,  este se resseca e deixa de frutificar. Sem a força da fertilidade de Demeter  a terra recusa-se a dar alimento aos homens.  Tal situação iria durar até  que Zeus, preocupado  com a fome que já grassava no mundo, forçou Hades a um acordo. Modificação benfazeja para a nova vida de Core:  Ela passará parte do ano com Hades no mundo dos mortos e parte do ano com sua mãe Demeter na superfície da terra.  Esses períodos de seu retorno, serão aqueles quando a deusa mãe terra ficará jubilosa, o solo ressecado umedece e fertiliza. A natureza toda  manifesta a alegria de Demeter dando novamente aos homens  alimentos.
    No entanto, na primeira vez em que Core retorna à superfície, Hades lhe dará para comer antes de deixar o Tártaro, um gomo de romã. Este fruto que tem o poder de unir casais, de firmar matrimônios, será para Hades a garantia de que ela retornará  sempre aos seus braços conforme o acordo com Zeus.
   Na verdade, nem tanto precisaria se preocupar Hades, pois  algum tempo depois, tal como nos revela o  mito de Orfeus, quando este cantor sublime desce ao Tártaro, lá estará Core recebendo-o ao lado de seu  marido, como uma mulher já madura, feliz, como rainha coroada do reino dos mortos, do mundo oculto. E, terá, além disso, já recebido outro nome: Perséfone.
    Por estes mitos, a vida de uma mulher/Perséfone poderá ser dividida em  dois períodos: Um  em que era alguém dependente, introvertida,  que desejava  o conhecimento das coisas veladas, ocultas da existência, mas sem dar-se conta de não estar chegando a sua profundidade; e  o segundo em que, após sofrimentos e dificuldades, vai devassando os mistérios sonhados, aprofundando-se neles, equilibrando-se até tornar-se uma mulher sábia, segura e realizada. No mito. só quando Perséfone deixou de ser Core,  compreendeu que ela era  como o grão, que, durante as sombrias  estações do outono e inverno, entrava  para as profundezas da terra para depois voltar pleno de energias, e manifestar-se  no mundo tal como uma florescente primavera. Ela, Perséfone, não somente  pensara mas também vivenciara  aqueles mistérios que  buscara.
    Tais mulheres/Perséfone  nós as vemos representadas nas cartomantes curiosas, nas bruxas medievais sofredoras queimadas, mas também em poetisas inspiradas, que tentam pôr em versos as belezas do ser , do destino e da vida e ainda nas grandes espiritualistas  que enriqueceram de ideias profundas os século dezenove e vinte.

    DEMETER, a mãe terra. Na Antiguidade, as mulheres tinham dupla função: Cuidar das crianças no lar  e manter a terra fertilizada, enquanto o  homem saía para a caça e a pesca.
    A mulher/Demeter trás em si as energias deste tempo. È mulher mãe, sobretudo. Sua dedicação principal são seus filhos. É neles que realmente se realiza. A gravidez é, para ela um tempo de embevecimento único de comunicar-se diretamente com os mistérios da concepção. Vê depois o filho que saiu de seu ventre como a terra que vai semear, arar, regar, proteger do sol, colher frutos. É a mãe educadora de ensinamentos básicos. Não importa que grau de instrução tenha, a ela cabe transformar os filhos como fazia com a terra; de terrenos virgens, áridos , duros  em um pó macio que pode receber e agasalhar o grão, as sementes que lhe lançar.
    Como deusa das colheitas e da fertilidade do solo, Demeter é a grande protetora das mulheres agricultoras e de todas aquelas que gostam de por suas mãos em contato com a terra. É profundamente intuitiva e sensitiva,( como o são todas as mulheres/Demeter). O mito nos conta que ouviu os gemidos dolorosos que a árvore do seu carvalho mais amado e imponente emitiu, quando Erisicton abateu nele o seu machado para transforma-la em mobília; ouviu também de uma distância incalculável os gritos de sua filha Perséfone quando foi sequestrada pelo sombrio deus Hades.
     Sua energia materna era tanta que se estendia a todos que eventualmente encontrasse em seu caminho. Uma das versões do mito de Triptólemo nos conta :
    Na ocasião em que Demeter procurava desesperada por sua filha, tão lastimoso era o seu estado que ninguém mais a reconhecia . Havia se transformado numa velha senhora alquebrada.
    Foi assim que Celeus e sua filha a encontraram, chorando, sentada em uma pedra. Penalizados, a levaram à sua casa. Lá, Demeter foi recebida com muito carinho e lá conheceu Triptolemo, o filho único de Celeus, uma criança adoentada. Com seu grande pendor maternal, o estreitou em seu colo e com suas carícias e o caldo de papoulas misturado a leite que lhe preparou, a criança sarou-se.
   Demeter, após identificar-se, agradecida à família pela hospitalidade, prometeu fazer daquela criança um homem útil e famoso .
    Quando o acordo entre Zeus e Hades  aconteceu, lhe devolvendo periodicamente sua filha, tornando Demeter de novo feliz, ela novamente encontrou Triptólemo já então adolescente. Viu nele a coragem de sair mundo afora. Transmitiu-lhe então todos os ensinamentos relativos ao solo. Ensinou-lhe a arte de semear, debulhar o trigo, armazená-lo, moer os grãos e transforma-los no alimento principal do homem: o pão.
   Saiu então Triptólemo, percorrendo as províncias gregas, orgulhoso pela missão lhe confiada pela deusa. Tornou muitos homens nômades famintos em camponeses fartos. E, realmente ficou famoso quando descobriu para a deusa o arado.
    Demeter mostrou ainda sua grande generosidade materna quando o rapaz morreu. Deu a Triptólemo  um carro alado e fez dele  o semeador celeste. Anualmente, em tempos de semeadura, ele surge no céu e lá, de seu carro alado, despeja  uma chuva de sementes e grãos que fecundam o solo da terra.
    Importantes foram por séculos os festivos e iniciáticos “Mistérios de Elêusis” referentes à Demeter e sua filha Perséfone. As mulheres vinham a eles descalças para se comunicarem   diretamente com a mãe terra através de seus pés. A eles ocorriam peregrinos vindos de longe para a cidade de Eleuses buscando iniciações. Estes, após se prepararem cumprindo vários dias de jejum, abstinências e orações, chegavam cantando, levando cajados  entrelaçados com galhos de plantas cheirosas.
    Em Elêusis, iriam iniciar-se,  estudando os ”Mistérios Menores“ sobre os quais não poderiam depois falar, pois comprometiam-se com votos de silêncio. Em um cerimonial protagonizado  pelos iniciantes, Perséfone, sempre  ligada ao ritos de Demeter, era também homenageada.
    Os iniciandos teatralizavam a ida de Core ao Tártaro. Seus temores ante as aparições das almas dos mortos; depois seu casamento sagrado e sua posterior transformação em Perséfone, senhora e rainha dos mortos.  Tais ”Mistérios” teatralizados queriam levar aos participantes gregos esta lição: todas suas carências e dependências podiam ser renovadas ; todos os seus questionamentos podiam ser respondidos. A marca principal dos” Mistérios de Elêusis” era a ressurreição , o eterno ciclo renovado da natureza que Demeter  cuidava.
    A mulher/Demeter terá , tal como a deusa, forte sentido maternal. Naturalmente que lhe sendo este sentido tão espontâneo, ela possivelmente irá estendê-lo ao próprio companheiro. Caso encontre nele alguém com carências de afeto materno ,terá conseguido em seu relacionamento a troca perfeita.
    Seu maior desafio será quando seus filhos por  ânsias de conhecimentos e relações outras que o mundo externos ao lar  pode lhes dar, o deixam. Testando ali a experiência de suas ausências, a mulher/Demeter irá imagina-los sempre frágeis,pois- segundo pensará - não estarão contando com sua proteção. Se não levarem tal desafio à contendo, poderão  repetir o mito da deusa  que  por um longo período transformou-se em “Mater Dolorosa”.
    Se é certo que cada um destes atributos das deusas  em seus mitos vivem  intensamente no inconsciente de nós mulheres, influenciando nossas atitudes, será certo também que hoje, quando  lutamos por ter uma participação ativa em nosso mundo e por  conservar aquelas que já alcançamos, queiramos novamente atingir cada uma de nós a inteireza da antiga Deusa da era matriarcal.
    Contudo, querer reunir tal esfacelamento feito pelo poder patriarcal, é nos pedirmos algo de monta: Dar guarida  às variadas e as vezes até oponentes  vozes que, dentro de nós, tentariam se harmonizar .
    Seria discernirmos sobre a voz da bela AFRODITE exigindo nos entregarmos à primeira solicitação  instintiva e sensual .
    Seria sentir a oposição a isso , acontecendo em nós, quando a  rígida e fiel HERA nos  lembrar da obediência aos princípios morais da cultura em que estivermos inseridas.
    Seria ainda colocar nossos pensamentos além dos limites da família , tal como só ATENÁ sabia fazer, e nos voltarmos generosamente  para ver o que acontece às pessoas e nações externas a nós; escolhermos entre ser humildes ou vaidosas como Aracne, a aranha.
    Seria também ouvirmos ARTEMIS nos chamando a atenção para os nascituros ,para percebermos se o prazer  de um ato de amor gerará um ser relegado ao descuido e ao abandono.
    Seria olhar a natureza como fazia DEMETER, vendo nela algo sagrado, um prolongamento nosso que ,em sendo desrespeitado, causaria nosso próprio extermínio.
    Seria por fim ouvir a voz da meiga PERSÉFONE a nos atrair para o oculto, a levantar o véu dos mistérios mais profundos e espirituais da vida e da morte.

    Ambicionar ter novamente em cada uma de nós a plenitude, a união das variadas características destas seis deusas, como as tinha a única e grande Deusa matriarcal, é uma idealização que poderá nos parecer perfeita, mas  que pelo momento continua sendo apenas fantasiosa e hipotética.

sábado, 12 de setembro de 2015

Arquétipos e Símbolos

Muitas vezes lemos em livros esotéricos: “Evoluir é concretizar arquétipos”. Isto é: o homem evolui na medida em que consegue captar e desenvolver arquétipos. O termo arquétipo vem da composição grega Archais + tipos que significa o tipo, o modelo arcaico, primitivo, original.
   Para entendermos o que é um arquétipo temos que saber que a cada um de nossos corpos corresponde um plano, no qual a consciência daquele corpo vive. Então, contamos com este plano físico, com o astral, o mental e também aquele que corresponde ao nosso mental abstrato que é o intuitivo, chamado então de plano arquetípico. Com ele nossa consciência abstrata faz contato para nos trazer aquilo que chamamos de intuições e revelações.

A Roda do Dharma e suas oito sendas.

   Este plano arquétipo contém gravado em sua substância as matrizes, os modelos, as leis divinas, os princípios divinos também chamados pelos indianos de Dharma. São os arquétipos que vamos trazendo às manifestações neste plano em que vivemos, como uma maneira de evoluirmos o nossos habitat, a cada um de nós, as raças, os países, enfim a todos os grupos e a todo o conjunto da humanidade. Para cada uma dessas coisas, existe então um plano, um arquétipo estabelecido. Cada vez que entramos em contato com estas idéias arquetípicas, damos um passo em prol do nosso evoluir. Quando alcançamos o plano intuitivo através da nossa mente abstrata, que é a menos desenvolvida em nós, teremos tido um dos chamados momentos de revelações, momentos intuitivos. Para trazer à manifestação esses arquétipos, estes princípios divinos, usamos o recurso dos símbolos.
   O que são símbolos? São recursos para se chegar a arquétipos. Exemplifiquemos: Na formação das primeiras raças, os homens através de suas mentes abstratas, que eram muito pouco desenvolvidas, (mas com o auxílio de seres que os orientavam para que pudessem levar adiante as civilizações e também através de sonhos), recebiam rudimentos de idéias arquetípicas destes princípios divinos, destas matrizes. Trazia-as então à manifestação pelo recurso de símbolos. Suponhamos que um homem primitivo houvesse captado, num lampejo rápido, até através de um sonho, a existência das sete notas musicais que seriam as bases da música do seu mundo futuro, (que ele depois iria desenvolver) ele poderia então desenhar ou ter a ideia de moldar uma estátua de cerâmica de sete braços. Caso captasse o princípio da Trindade (vontade, sabedoria e amor), que ele também teria de desenvolver, ele poderia criar um objeto de três pontas. Suas criações teriam sido um representação simbólica de uma matriz do plano arquetípico que ele entrou em contato. Então, cada vez que ele olhasse estas representações, sua mente voltava a contatar o plano arquetípico, até que um dia, após estar mais evoluído, conseguindo contatar com mais freqüência sua mente abstrata, captaria o princípio divino totalmente. Assim, foi através de símbolos que desenvolvemos nossa mente abstrata para usar em nosso mundo as matrizes do plano arquetípico. Hoje sabemos que o princípio da Trindade, o número três, representa o equilíbrio. Porém, não conhecemos toda a potência deste arquétipo. Na medida em que evoluímos, as cabeças científicas vão percebendo que muito mais coisas materiais podem ser criadas, usando este princípio do equilíbrio. Intimamente, vamos nos tornando também cada vez mais equilibrados.



   Hoje sabemos que os princípios que captamos não só trazem a nós conhecimentos, como nos transmitem também tipos de energias, como é o caso do princípio dos sete sons, pois cada um deles, ao serem tocados, atuam em nosso corpo emocional. Outra coisa que observamos é que também a natureza, os animais manifestam arquétipos. O princípio divino da ressurreição, de que nada morre permanentemente, está refletido na mudança das estações. Podemos, nós homens, chegar à matrizes do plano arquetípico, apenas observando o comportamento da natureza.

Labirinto, um dos atalhos para chegar ao arquétipo.

   Voltemos à afirmação inicial que dizia “Evoluir é concretizar arquétipos.” Observemos como o homem primitivo se comportava: O Totemismo era o costume tribal que atribuía a sua ancestralidade a um animal. Isto é, a tribo teria se originado num animal, que era então o totem. Para evoluírem, usavam também o princípio do arquétipo. O totem seria o símbolo do princípio, da energia que a tribo necessitava desenvolver para sobreviver e crescer. Se a tribo vivia perto do mar,  provavelmente seu totem seria um animal marinho que lhes traria a energia para dominar o principal desafio da tribo: o mar. Se a tribo vivesse na montanha o seu totem poderia ser um cabrito montês com destreza suficiente para galgá-la. Em seus ritos comiam ou banhavam-se na carne e no sangue do totem para obterem a sua energia. Confirmamos assim a máxima esotérica que diz que assimilamos a energia dos arquétipos através dos símbolos. Também nós, homens modernos, fazemos de pessoas os nossos arquétipos. Para os islâmicos, Maomé é o seu modelo de comportamento que eles seguem para evoluir. Nós, cristãos, temos nosso modelo em Jesus. Inclusive, à semelhança do que faziam os tribais, nos é oferecido na eucaristia cristã o corpo e o sangue do Cristo, para obtermos as suas energias santas.  No simbolismo da última ceia, ao distribuir pão e vinho, Jesus teria dito: “Comei e bebei da minha carne e do meu sangue.”.
   Seguimos também ideias de líderes-modelos políticos e sociais para elaborarmos nossas doutrinas. Enfim, é sempre na busca de um arquétipo, de um modelo, que buscamos o recurso para evoluirmos.
   O arquétipo e a psicologia: O analista C. G. Jung via nas fábulas mitológicas que criamos, a manifestação popular e literária de arquétipos, dos sentimentos que precisamos desenvolver ou dominar. Por isso, foi um grande estudioso de mitos. Também dizia que os sonhos também escondem arquétipos que desejamos alcançar e que nos causam ansiedade.
   Profetas: Existem homens extremamente evoluídos que têm facilidade de entrar em contato com o plano arquetípico, devido a terem uma mente abstrata muito desenvolvida. Os profetas do Antigo testamento seriam alguns deles. Ao contatarem o plano intuitivo, desvendariam as matrizes dos acontecimentos que estavam por vir. Assim, previram a vinda do Messias. Assim também Jesus teria predito a queda de Jerusalém. Assim Nostradamus teria previsto as guerras modernas. Nas matrizes imprimidas na substância do plano arquetípico está a explicação para previsões que podemos fazer sobre o futuro.

Santa Ceia, consagração do simbolismo do pão e do vinho.

   Arquétipo individual e o livre arbítrio: As crenças esotéricas dizem que para o planeta, para a ciência, para as raças, para as nações, para tudo existe um arquétipo a ser realizado mas que para cada um de nós também existe um arquétipo individual em acordo ao nosso tipo de mônada, nosso tipo de individualidade.
   “A matriz individual de cada um de nós -dizem os arquivos ocultistas- é chamado de “átomo Crístico” ou Santo ser Crístico”.  É representado simbolicamente por um bebê miniatura, dourado, que dorme em nosso chacra cardíaco.
   A cada vez que entramos em contato , através da meditação, com este símbolo, conhecemos um pouco do nosso arquétipo individual, isto é: Do nosso papel na vida, e recebemos a energia da nossa individualidade monádica, da nossa mônada.
   O dia que cumprirmos o nosso papel, o plano designado para nós, este bebê crescerá e nos tornaremos o homem-Cristo tal como aconteceu com Jesus e outros mestres.
  Cumprir arquétipos não significa determinismo. O Arquétipo nunca se choca com o nosso livre arbítrio. Os arquétipos marcam para nós a linha geral de um acontecimento, de um plano, porém a forma como chegamos a cumprir este acontecimento ou este plano depende de nós, também o tempo que levamos para concretizá-lo depende de nós. Exemplificando: Nosso arquétipo nos estabelece um plano que diz que teremos como guia espiritual um mestre de determinada linha.  Um dia, chegaremos a ele, porém os atalhos que percorreremos, a forma como vamos fazer para chegarmos a ele, o tempo que isto nos demandará, depende de nós. Se por teu tipo de mônada, tens determinado papel a cumprir dentro da ciência, um dia obrigatoriamente o cumprirás. Porém, os livros que vais ler para tuas pesquisas, quais os trabalhos científicos que farás, o tempo que demorarás a cumprir tal plano dependerá de teu esforço, de teu livre arbítrio ao executá-lo. Isto também é válido em relação ao plano das nações. A forma como chegarão a cumpri-lo depende dos esforços da totalidade dos grupos nacionais.

   A Roda do Dharma budista: Dharma quer dizer plano divino, lei e arquétipos a serem cumpridos. É simbolizada por uma roda dividida em 8 partes. Elas representam 8 sendas, 8 caminhos. Em cada um deles cumpriríamos uma lei divina, que nos levaria num dia futuro a cumprir o arquétipo do Nirvana, que é o princípio da paz e da bem-aventurança. Cada vez que completamos uma das sendas, fazemos um giro na roda da nossa vida, impulsionamos o nosso Dharma, a nossa lei individual. Enfim, chegamos mais perto do nosso arquétipo, do nosso nirvana.

Oração aos Ancestrais

Em nome de Deus, em nome do nosso Eu, que hoje desperta para a sabedoria das leis, trazemos a vós, antepassados, agradecimentos por todos os fatores hereditários que transmitistes a nós.
  Agradecemos a vós, ancestrais tão longínquos a perderem-se nas infinitas eras atrás.
  A vós ancestrais desencarnados, enviamos esta mensagem:

  Se não achastes Deus no tumulto do mundo físico, buscai-O agora nas leis do plano em que hoje estais. Afastados do mundo físico, transcendei a ele, esqueçais receios e agitações. Não vos apressais a agir segundo moldes terrenos, buscai orientadores. Buscai-os com a pertinácia de quem deseja um facho de luz em noite escura. Eles vos conduzirão para cumprirdes vosso papel na manifestação de Deus, neste universo que nós e vós, antepassados, habitamos. Nós vos amamos!

   A vós, ancestrais que viveis ao nosso lado:

   Sirvamos juntos à nossa família, ao nosso país, aos nossos companheiros de evolução com a mesma humildade com que Jesus lavou os pés de seus discípulos. Façamos finalmente juntos a ação glorificada pelo amor impessoal. Gratos muito gratos vos somos por este reencontro!

  Graças vos damos mãe, avó, bisavó, por vosso ventre, pelo tabernáculo no qual abrigastes em embrião o nosso grupo familiar. (Aqui, façamos uma pausa no falar para pensarmos em suas figuras).
  Graças vos damos pai, avô bisavô pelo gene criativo que expressou-se através de vós. (Aqui, paremos a fala para pensarmos em suas figuras).
  Em nome do arquétipo divino que nosso Eu busca alcançar, agradecemos a todos vós, nossos inumeráveis e amados antepassados, por nosso corpo, por este templo que abriga o Espírito Eterno em nós e em vós.
  Por todas as experiências que vivemos juntos ,cumpra-se em nós a grande” Lei da Unicidade Universal”.
 Neste momento, com gratidão, emprestamos luz de nossa própria consciência crística para ajuda-los. Nós vos amamos!

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O Retrato

À Minha Filha Vânia (Lembranças)


Ela queria ir ao baile. Ao primeiro baile. Mil vezes desfilou uma vivacidade de quinze anos de lá para cá, frente ao espelho...  Rodopiou, cantarolou sons que iam desde os mais românticos vienenses, até os mais frenéticos e atuais.
   Rodopiou enrolada em lençóis brancos que refletidos no espelho logo se transformavam para ela em esvoaçantes vestidos. Antecipou minuto a minuto a noite que queria. A noite esperada veio e passou. Agora, dela possui lembrança que buscará muitas vezes repisar. Vânia faz culto à alegria. Na falta de algum presente se servirá até das já vividas. Ela é assim mesmo. É tudo isso: vibração, riso, vida querendo expandir-se.
    Para nós que a tudo assistimos, há agora o retrato lá sobre a estante de livros. Retrato que a mim alegra, entristece e deixa confundida.
    Nele, o tema nada contém de novo. É nada singular . É apenas o de uma adolescente sorrindo infindavelmente em seu vestido puro e alvo. Mas há o olhar e além disso o seu nariz minúsculo e petulante. Neles há algo que me prende e fascina.


    Chavão tão velho é escrever sobre retratos que falam. Não vou fugir a ele. Por que ser original se é justamente o que acontece? Cada vez que passo pela estante , nele está Vânia me chamando, dizendo e afirmando: “Viver intensamente! Movimentar-me consonante ao mundo que não para! Amor, alegria! É tudo o que eu quero. Para mim é neste instante que o mundo nasce, tem início!” Não resisto e sento-me frente ao retrato para melhor escutá-la. Mas logo tanto entusiasmo leva-me, num paradoxo, a ficar triste.
    Lembro-me precisamente pelo contraste que encerra, de outro olhar que há dias vi...
    Era um recorte de revista. Ali, uma cena de guerra, tão longínqua quanto brutal, servia bem ao sensacionalismo ou ao realismo , como queiram, do jornalista. Havia nele fotografado um menino paquistanês. Tão velho em idade quanto Vânia, 14 ou 15 anos, nada mais. Fazia parte de um grupo de fugitivos, repatriados de sua cidade nativa em escombros, para fazer lar agora entre repugnantes canos de esgotos...
    O olhar impressionava como o dela , embora absolutamente inverso. Nada dizia, nada contava. Olhar inexpressivo como se conduzido apenas pelo instinto de seguir o grupo. Como se houvesse feito justamente o contrário de Vânia. Ao invés de fazer o mundo renascer para si, já o tivesse enterrado, sem chance de sobrevivência, sem nem cogitar mais numa forma de vivê-lo. Olhar vazio de futuro. Incapaz de interrogar á tanta adversidade: Por quê?
    Olhar de menino sem revolta, pois o único viver que conhece é esse mesmo: uma sucessão de desditas que inexoravelmente vão se acumulando. Não imagina possa existir em outro lado dos continentes , juventude plena de vigor, esperanças e planos.
    Muitas vezes quando passo frente à estante, lá está teimoso, lado a lado com a radiosa figura de Vânia, o trágico adolescente paquistanês...
    Fico acabrunhada. Procuro então serenar-me. Tento fazer como aquela geração passada que, por falta de comunicações rápidas como as de agora, pouco sabia do que se passava longe, fosse China, Índia ou Paquistão. Quero ignorar. Restringir minha felicidade às paredes do lar, numa indiferença omissa.


   “O rapaz está tão longe-digo de mim para mim- e a garota que é minha está tão feliz” Não é possível aquietar-me. Não consigo por o limite de minha alegria em meus filhos, meus amigos, meu próprio país. Sou exigente. Quero nada menos do que a estabilidade da humanidade inteira.
    Confusa, aturdida, resolvo apelar para a esperança ainda intocada de Vânia que lá do retrato continua falando-me. Nariz petulante , posto para o alto como a desafiar-me afirma: Para mim toda a história passada já era... E seus olhos decididos vão repetindo: Já era... Já era...
     Nessa afirmação que ela e os jovens “salvos do incêndio” que se propaga ao mundo encontraram, parece estar a promessa de algo melhor e positivo.
     Lutas que colocarão depois Vânia face à face com ganâncias, negatividades, que sua atual ingenuidade nem pode ainda calcular, com certeza a esperam. Mas tenho uma intuição : Seja o que for que venha a enfrentar, a vitória já é dela.
    Nem em livros elaborados por filósofos e eruditos, onde tanto busco e procuro, achei mais esperança que neste seu retrato. Menina entusiasta e feliz, com muitos sonhos e propósitos, dançando sob olhar protetor de pais e irmãos... Menina segura de si, em condições de prometer-me muito. Prometer vencer o mundo. Pega-lo entre as mãos, tal como se fosse terra gasta e ressequida. Cultiva-lo amorosamente, semeando nele sua beleza e alegria. E, um dia ir dá-lo ao menino paquistanês finalmente desabrochado em flores, muitas flores de paz.