sábado, 15 de março de 2014

Yewa - A Lua


    Entre as muitas tentativas de neutralizar a força do patriarcado que oprimia a mulher, os nagôs nos dão o mito de Yewa , a lua.

    Quando da criação do mundo pelos orixás, ela foi uma das poucas deusas que permaneceram no paradisíaco céu de Olurum. No entanto, quando soube que o adivinho Orumilá era um dos principais defensores da supremacia masculina, resolveu descer ao mundo dos homens para vingar-se dele.
 
As duas faces de Yewa.

   
Era muito bela. Mesmo Omulú, orixá que jamais levantava o rosto do chão, porque o tinha mutilado pela lepra e que por isto nunca vira no alto o firmamento, Yewa brilhando radiosa entre as estrelas, apaixonou-se por ela, somente a vendo refletida numa poça de água.

    A beleza desta deusa era tanta que apenas o seu reflexo já deixava os homens românticos e enamorados. Disso ela iria se aproveitar para seduzir e castigar o adivinho Orumilá.

    Yewa era a deusa que mais manifestava a dualidade do caráter feminino. Ocultava sempre uma face. Se por um lado era doce, maternal, sedutora, por outro sabia ser de uma sutileza maliciosa e cruel.  Então, quando desceu à terra, sua manifestação física tinha como ela duas faces. À noite, Yewa era a deusa da beleza irresistível, mas durante o dia apresentava-se como uma bruxa horrível e peçonhenta.

    Quando seduziu Orumilá levou-o à uma cabana na floresta onde ele, isolado, ficou à sua mercê. À noite, entregava-se apaixonadamente a todos os prazeres que o belo corpo da deusa lhe dava. Porém, quando prostrava-se dormindo saciado, ela, que começava a mostrar seu outro lado, envolvia-o em ervas mágicas que o deixavam durante todo o dia adormecido, afastado de suas prestigiadas tarefas adivinhatórias. Orumilá permaneceu durante tempos tal como Yewa desejava. Absolutamente apenas submisso a ela.

Brilho lunar, um reflexo do poder solar.

    Contudo, conta o mito, que Exú e quem nada se esconde pois tem o dom da ambivalência, viu a situação crítica de Orumilá e foi em seu socorro. Quando, numa manhã Yewa deixou Orumilá adormecido na cabana e saiu até as margens de um rio, já então em sua diabólica aparência de bruxa, Exu acordou Orumilá e levou-o até ela para mostrar-lhe sua outra face.

    O mito se encerra quando Orumilá, em desespero, a mata. Yewa retorna então ao céu como a lua que é. Porém, seu projeto de acabar com a opressão patriarcal frustrou-se. Yewa tornou-se um astro morto pois Orumilá a matara. Ficou na dependência do poder masculino do sol para ter brilho. Só com o seu auxílio, sua face de beleza pode inspirar sonhos de amor nos poetas e nos namorados. È também obrigada a esconder sempre, para quem está no mundo, o seu lado feio, colocando uma véu negro sobre ela.

Paimpont, a Floresta Encantada

   No coração da Bretanha francesa lá está um ponto emocionante de uma caminhada iniciática. Paimpont, a antiga Brocellande, floresta preferida pelos cavalheiros do rei Artur. Ali o sagrado Graal, perdido nela por José de Arimathéa, o seguidor do Cristo, era buscado.


Carvalho, árvore sagrada dos druidas em Paimpont.

Tudo em Paimpont nos leva as lembranças das lendas arturianas. Ali-afirma-se era o refúgio dos amores da feiticeira Viviane, e de Merlin o maior dos magos druidas. Tendo perdido sua iniciação pela paixão à Viviane, que o prendeu em um círculo mágico na própria floresta, Merlin, conta a lenda, veio a morrer, deixando para todos os místicos que ali chegam a pedra rústica que cobre o seu túmulo. São surpreendentes as devoções constantes ainda hoje feita pelos franceses modernos no local.

    Ao antigo druida uma árvore com sua raiz, seu tronco e suas galhadas representavam respectivamente o mundo subterrâneo, o mundo humano e o divino. Que se diria então para Brocellande com seus 7.000 ha de plantios de carvalho, a árvore sagrada por excelência? Para Brocellande todas as homenagens eram poucas. Foi ela o grande objeto de cultos dirigidos á natureza, local das fogueiras de Beltane acesas em honra ao deus solar Bellenos, e do recolhimento do “Guy” a mais energizada seiva do carvalho. Como para o antigo druida Brocellande era a transcendente morada de deuses e magos, foi perseguida pelo Cristianismo. Quando Carlos Magno pegou o domínio da França, antiga Gália, representando a Igreja, mandou queimar uma grande quantidade de carvalhos de Paimpont para exterminar tais cultos.


Tumba do mago Merlin
na floresta de Paimpont.
   Ali, hoje, o turista encontra placas com indicações para o “Vale sem Retorno”. Ele nos leva novamente às personagens arturianas. Na Idade Média, muito homem crédulo e infiel não entrava nele. Segundo a lenda, ali a fada Morgana, meia irmã de Artur, espera todos os amantes infiéis e os empurra para o fundo de um precipício. Assim se vinga de ter sido traída  em seus amores.

   Durante todos os momentos que ali permaneci em Paimpont, minha alma se gratificava por ter conduzido ali um grupo consciente da imantação de fé que podia ainda hoje ser encontrada naquele local de tantas antigas devoções.