sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O Simbolismo das mãos

  
Extraído do livro  "A Influência de Crenças e Símbolos"

As mãos curam, abençoam, evocam,louvam, defendem, se comunicam e molestam. Assim as várias crenças as vêem.

   É, sem dúvida, nos estudos sobre “Mudras, nas yogas de origem indiana e nas práticas do Budismo, principalmente o Mahayana (grande veículo), que encontramos, a maior diversidade simbólica dos gestos. Tal palavra, em sânscrito, significa “sinal”.  Segundo tais linhas, as mãos manifestam o estado de consciência em que estão os seus praticantes, e o objetivo a que se propõem no momento.Acreditam que as posições  de suas mãos retêm energias dentro do ser humano, produzindo nele transformações não só em seu físico mas também em seu emocional e mental. Os Mudras -assim crêem- podem captar energias da natureza. Então, caso um seu praticante faça um gesto representando um nascer do sol, estará atraindo para si a energia solar, podendo depois transmiti-la com outro Mudra.Os mudras  podem também representar a movimentação dos peixes, dos insetos, e trazerem assim a energia desta movimentação.

Mudra da paz.

   As Hatha Yogas usam também os Mudras aliando-se com as Asanas (posturas corporais) e a respiração, despertando, assim os seus adeptos para as forças cósmicas. Os Mudras aparecem com freqüência nas danças indianas, em sua arte, e nas esculturas e imagens de seus deuses. È bastante comum então se ver as estátuas de Buda ou de seus Bodisatwas emitindo diversificados sinais sobre a humanidade.

   O Cristianismo, ao representar Jesus, e algumas vezes apóstolos como Paulo e Lucas, os põe emitindo energias divinas, os Mudras de bênçãos.

As interpretações esotéricas dos gestos que aparecem em imagens cristãs, onde geralmente os dedos mínimo e anular estão abaixados para a palma da mão, nos dizem que são pelos outros dedos, o polegar, o indicador e o médio, que fluem as potências mais superiores do homem, sendo então, estes os escolhidos para o uso das bênçãos. Os sacerdotes cristãos estão investidos pela Igreja do poder de as transmitirem embora algumas linhas espiritualistas ampliem estas transmissões. Baseadas num princípio possível da troca energética entre todos os seres acham que uma pessoa que evoca forças divinas, poderá igualmente abençoar outrem e até curá-lo, difundindo tais forças pelo simples poder de suas próprias mãos.


A importância dos dedos, não só nos Mudras indianos, mas também em quaisquer crenças de outras procedências, é imensa. No Islã, um de seus símbolos mais sagrados é a “Mão de Fátima” (filha do Profeta). É um talismã onde a sua palma aberta propõe um gesto de defesa contra perigos. Os cinco dedos representam os cinco pilares da devoção islâmica; Peregrinação, profissão de fé, esmola, prece e jejum.

   Vindo da idéia de que a figueira é uma árvore de poderes mágicos, o simbolismo do “gesto da figa” onde com a mão fechada o dedo polegar é colocado entre o índex e o médio aparece como o amuleto contra mal olhado nas regiões que receberam influência africana, como o nordeste brasileiro. Tendo sua procedência nos negros escravos aqui vindos da Guiné, é também conhecido entre nós como a “Figa de Guiné”. Os objetos que a representam, principalmente em nosso estado da Bahia, são inúmeros e valem, segundo a crença, por um esconjuro.

A linha mística do Budismo Mahayana trabalha com as cores do prisma solar. Faz de cinco raios dele uma correspondência com os cinco dedos da mão. Chamam a isto a “Mão do Maha Chohan” porque crêem que exista um grande ser que administra espiritualmente o mundo, os setores ativos de amor, arte, ciência , união e liberdade, a que correspondem as características daqueles cinco raios estudados, dando assim, à mão e seus dedos , um simbolismo de atividade espiritual.


   Do séc, XIV ao sec. XVIII alguns países da Europa, particularmente a França e a Inglaterra, foram tomados pela crença de que o rei tinha o poder de curar pelas mãos. Isto advinha da idéia, estranha a nossa modernidade, do caráter sagrado atribuído às monarquias de outrora, ao poder régio, o qual –segundo acreditavam- era investido por virtudes divinas. O contato com mãos reais curavam, em especial as Escrófulas (uma doença de pele, causada pela inflamação dos gânglios linfáticos) que em certas regiões francesas e inglesas em razão da pouca higiene eram endêmicas. No livro do professor Marc Bloc, é narrada com detalhes a crença nestes poderes miraculosos das mãos reais.

    No simbolismo das mãos, os significados da direita e da esquerda são divergentes.

A Cabala judaica em sua diferença bíblica de um deus da justiça, e um da misericórdia os faz representar respectivamente pela mão direita e esquerda.

Dando um caráter benéfico à mão direita, e maléfico á esquerda, as feiticeiras africanas usam sua mão direita para manipular ervas amuletos e apetrechos usados em rituais sagrados, mas usam a esquerda para prepararem venenos e fetiches maléficos.

   Já no Corão Islâmico é citado: “Aquele que recebe o Livro (O livro da vida do pós morte , onde estão as ações humanas ) com sua mão esquerda dirá : serão reveladas desgraças para mim! Aquela que receber seu livro com a mão direita será julgado com mansuetude.”  Vamos também encontrar no latim a palavra sinistra referindo-se á mão esquerda.


Os espiritualistas afirmam: A mão esquerda recebe (as bênçãos do céu) e a direita dá. A primeira é passiva e a segunda ativa, e é assim que as usam em seus ritos de bênçãos.

Há quem creia que as linhas da mão formam um gráfico que revela nosso destino. São os quiromantes. A Quiromancia, tal como a Astrologia, acredita que as forças planetárias atuam no indivíduo. Porem, a Quiromancia afirma ainda que tais forças estão marcadas nas palmas das mãos e por elas podemos estudar talentos , tendências e futuro.O povo cigano sempre se dedicou a esta crença.

Seguindo o mesmo raciocínio da influência planetária vibrando nas mãos, o Afro Brasileira, em sua linha umbandista, usa como recurso de intercâmbio entre médiuns e seus orixás e caboclos, um estalar de dedos que produz um som semelhante ao bater de um castanhola. Cada um dos orixás trazem a força de um dos planetas do nosso sistema, e os caboclos se inserem também nas sete linhas dos orixás. Entre os planetas, crêem que é Venus aquele cuja influência é mais forte. Ao concordarem então com a Quiromancia , quando esta diz que na elevação que temos  junto ao pulso, é onde se encontrará a influência de Venus , chamando-a até de” Monte de Venus “. O médium recebedor do orixá ou do caboclo estala o dedo tocando fortemente este monte excitando-o provocando reações vibratórias que fortificam a sua relação com o orixá ou o caboclo que está recebendo.

Em sua conotação de comunicadoras , as mãos encontram o seu intercâmbio simbólico mais importante na linguagem usada pelos surdos –mudos. Numa linguagem gestual, estes encontram a oportunidade de prescindirem da comunicação verbal por meio de sinais que substituem com perfeição os sinais fonéticos.

Sejas tu um Yoga a levantar as mãos numa saudação ao sol, sejas tu um sacerdote a abençoar, estejas unindo-as em formato de lótus para orar, ou movimentando-as graciosamente numa dança ritual ,  se perante teu hino pátrio ,as tiver sobre o peito em fervor nacional, se as estenderes a alguém em sinal de amizade, sempre tuas mãos estarão usando um simbolismo revelador do teu estado psicológico ou espiritual.     

  Do sec. XIV ao sec. XVIII alguns países europeus, particularmente a França e a Inglaterra, foram tomadas pela crença de que os reis tinham o poder de curar pelas mãos. Isto advinha da idéia estranha à nossa modernidade

   Do caráter sagrado atribuído às monarquias de outrora, ao poder régio, o qual –segundo acreditavam- era investido por virtudes divinas.

 O contato de mãos reais curava em especial as Escrófulas (uma doença de pele causada pela inflamação dos gânglios linfáticos), que em certas regiões francesas e inglesas medievais, em razão da pouca higiene, eram endêmicas. No livro “Os reis Taumaturgos” do professor francês Marc Bloch são narrados em detalhes, a c

Crença nestes poderes miraculosos das mãos reais.

No simbolismo das mãos, os significados da direita e da esquerda são divergentes.

A Cabala judaica em sua diferença bíblica de um deus da justiça e um deus misericordioso os faz representar respectivamente pela mão direita e esquerda.

Dando, um caráter benéfico á mão direita e maléfica à esquerda as feiticeiras africanas usam a sua mão direta para manipular ervas, amuletos e apetrechos usados nos rituais sagrados, mas usam a esquerda para preparar venenos e fetiches maléficos.

Já mo Corão islâmico é citado: “Aquele que recebe o Livro (o Livro da Vida do pós morte , onde estão as ações humanas feitas no mundo) com sua mão esquerda dirá: serão reveladas desgraças para mim Aquele que recebe seu livro com a mão direita ,será julgado com mansuetude.  Vamos também encontrar no latim a palavra sinistra, referindo-se á mão esquerda.






Os espiritualista afirmam: “A mão esquerda recebe (as bençãos do céu) e a direita dá”.A primeira é passiva e a segunda é ativa, e é assim que as usam em seus rituais de bençãos.
A quem creia que as linhas da mão forma um gráfico que revela nosso destino. São eles os quiromantes. A Quiromancia, tal como a astrologia, acredita que as forças planetárias atuam no indivíduo, mas vão além, afirmando que tais forças estão marcadas nas palmas de suas mãos, e por elas podemos estudar seus talentos ,tendências e futuro.
Seguindo o mesmo raciocínio da influência planetária vibrando nas mãos, a afro-brasileira, em sua linha umbandista, usa como curso de intercâmbio entre seus médiuns e seus orixás e caboclos, um estalar de dedos que produz um som semelhante ao bater de castanholas. Cada um de seus orixás trazem a força de um dos sete planetas do nosso sistema, e os caboclos se inserem também na sete linhas dos orixás. Entre os planetas, é Vênus aquela cuja influência é mais forte assim creem. Ao concordarem então com a Quiromancia, quando esta diz que na elevação que temos junto ao pulso é onde se encontrará a influência de     Vênus,chamando-a até de “monte de Vênus”, o médium recebedor do orixá estala o dedo, tocando fortemente este monte, excitando provocando reações vibratórias que fortificam a sua relação como orixá ou caboclo que está recebendo.
Em sua conotação de comunicadoras as mãos encontram seu intercâmbio simbólico mais importante na linguagem usada pelos surdos-mudos. Numa linguagem gestual, esses encontram a oportunidade de prescindirem da comunicação verbal, por meio de sinais que substituem com perfeição os sinais fonéticos.
   Sejas tu um yogue a levantar as mãos numa ‘saudação ao sol”, sejas um sacerdote a abençoar, estejas unido-as em formato de lótus para orar, ou movimentando-as graciosamente numa dança ritual, se perante teu hino pátrio as tiver sobre o peito em fervor nacional, se as estender a alguém em sinal de amizade, sempre tuas mãos estarão um simbolismo revelador do teu estado psicológico ou espiritual
Os espiritualista afirmam: “A mão esquerda recebe (as bençãos do céu) e a direita dá”.A  primeira é passiva e a segunda é ativa, e é assim que as usam em seus rituais de bençãos.

A quem creia que as linhas da mão forma um gráfico que revela nosso destino. São eles os quiromantes. A Quiromancia, tal como a astrologia, acredita que as forças planetárias atuam no indivíduo, mas vão além, afirmando que tais forças estão marcadas nas palmas de suas mãos, e por elas podemos estudar seus talentos ,tendências e futuro.
Seguindo o mesmo raciocínio da influência planetária vibrando nas mãos, a afro-brasileira, em sua linha umbandista, usa como curso de intercâmbio entre seus médiuns e seus orixás e caboclos, um estalar de dedos que produz um som semelhante ao bater de castanholas. Cada um de seus orixás trazem a força de um dos sete planetas do nosso sistema, e os caboclos se inserem também na sete linhas dos orixás. Entre os planetas, é Vênus aquela cuja influência é mais forte assim creem. Ao concordarem então com a Quiromancia, quando esta diz que na elevação que temos junto ao pulso é onde se encontrará a influência de     Vênus,chamando-a até de “monte de Vênus”, o médium recebedor do orixá estala o dedo, tocando fortemente este monte, excitando provocando reações vibratórias que fortificam a sua relação como orixá ou caboclo que está recebendo.
Em sua conotação de comunicadoras as mãos encontram seu intercâmbio simbólico mais importante na linguagem usada pelos surdos-mudos. Numa linguagem gestual, esses encontram a oportunidade de prescindirem da comunicação verbal, por meio de sinais que substituem com perfeição os sinais fonéticos.
   Sejas tu um yogue a levantar as mãos numa ‘saudação ao sol”, sejas um sacerdote a abençoar, estejas unido-as em formato de lótus para orar, ou movimentando-as graciosamente numa dança ritual, se perante teu hino pátrio as tiver sobre o peito em fervor nacional, se as estender a alguém em sinal de amizade, sempre tuas mãos estarão um simbolismo revelador do teu estado psicológico ou espiritual. 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A Alma Gêmea de Júlia

Para minha amada neta Júlia                   



   Júlia nunca poderia adivinhar que a demora na chegada do ônibus que esperava, a levasse finalmente ao encontro daquilo que mais queria: encontrar a sua” alma gêmea”.

   Ela acreditava piamente nisto: que neste mundo onde todas as coisas pareciam duais, tinham suas polaridades de negativo e positivo, esquerdo e direito, também o feminino e o masculino deveriam ter uma correspondência harmoniosa, que pudesse formar um par perfeito. Trazia em si a certeza que em algum lugar deste planeta o seu complemento masculino deveria andar às soltas esperando apenas o momento exato de se unir a ela.

   O caso, porém era que tivera já experiências amorosas e todas haviam redundado em decepcionantes fracassos. É bem verdade que encontrar “alma gêmea” pra Júlia não era fácil.

 Ela era alguém muito sensível. Sua sensibilidade tocava às raias do incomum. Possuía uma imaginação que se poderia considerar de transcendente.

   Naquele seu cotidiano onde suas amizades masculinas pareciam viver porque viam os outros viverem, onde ninguém demonstrava estar preocupado com indagações existenciais como ela se fazia,encontrar um homem-complemento que se lhe ajustasse, vamos convir que era procurar agulha em palheiro.
 Isto tudo preenchia o pensar de Júlia durante a espera do ônibus e este demorava... demorava... Entre a quantidade de linhas que faziam parada ali, quase todas já haviam passado. A 15 que levava ao mercado, a 21 que ia ao campus universitário, a 33 margeando a orla marítima e tantas outras. Somente a sua não apontava.

   Neste momento, um vento forte fez mover um papel no chão, próximo a seus pés e Júlia baixou os olhos atraída pelo ruído que fizera. Era um papel tipo ofício, dobrado, novo como se alguém o tivesse perdido há poucos instantes.

   Embora a imaginação de Júlia a fizesse também acreditar que o acaso não existe; que pequenos detalhes aparentemente sem importância nos encaminham às circunstâncias maiores que vivemos, ali, porém ela não percebeu: aquele papel era justamente o que faltava para desencadear tudo o que lhe estava por vir.

   Sua curiosidade a fez apanhá-lo e abri-lo. E, porque o ônibus custou a chegar, ela teve tempo suficiente para ,ali mesmo, ler o longo texto que continha: uma monografia datilografada, não assinada e que levava este título singular:  Quem sou eu?

   De início, seguindo a leitura apenas para passar o tempo, Júlia acabou por absorver-se profundamente nela, embevecida no relato tão sincero que o autor fazia sobre si mesmo. Ali era desnudada uma personalidade masculina tão ou mais sensível que a dela própria. As minúcias emocionais deste homem ignorado eram contadas com cativante simplicidade, de molde mesmo a impressioná-la.

Veio o ônibus e ela pegou-o com o escrito entre as mãos para dali em diante fazer dele o motivo de seus pensamentos, nos próximo dias e noites.

   Em muitas delas, Júlia o poria ao lado da cabeceira de sua cama para reler seus trechos e se indagar: Quem seria este homem que se descrevia como o retrato fiel daquela “alma gêmea” que ela sonhava para si?

 Um dia afinal, após haver dissecado nas suas entrelinhas todas as nuances daquela personalidade invulgar, chegou a evidente conclusão que se apaixonara por seu autor. Contou até as suas preocupações a sua melhor amiga. E o que ela lhe disse?  Que talvez ele fosse alguém careca, vesgo , barrigudo e muito velho para ela. Mas Júlia teimava em idealizá-lo como uma imagem de beleza masculina. Só tinha um desejo agora: Achá-lo.

Por tal desejo, começou a sofrer uma serie de pesadelos. Sonhou uma noite que voltava a parada de ônibus. Ali, com o papel à mão, abordava cada passageiro que subia , indagando quem o perdera , mas só via rostos que balançavam em negativas.

   Em outro sonho embarcara no coletivo que levava ao mercado. Lá, as bancas não vendiam frutas ou verduras, eram cheias de monografias e estavam todas assinadas.  Quando viu a primeira assinatura vibrara. Finalmente, descobrira-lhe seu nome, mas logo a decepção: cada uma trazia um nome diferente. Qual seria  entre eles o do  seu amado? Acordou gemendo, suada, agitada.

   Porém, numa coisa acreditava: seus sonhos a alertavam para uma conclusão óbvia: Sua “alma gêmea” era alguém que tomara o ônibus naquela parada. Resolveu confiar nos sonhos. E esperava ansiosamente pelas noites e depois seguia certo rito. Lia um trecho da monografia e a punha sob o travesseiro e aguardava o sono vir apenas para sonhar. Nem sempre isto funcionava, mas Júlia, tão fantasiosa, teimava. Teve um novo sonho quando leu pela décima vez aquele autor desconhecido descrever o que pensava sobre o amor.

   - Vejo o amor- dizia ele- como uma plenitude que deverá somar atração física e um dialogar que acuse uma afinidade muito ajustada de pensamentos e emoções. Sem esta plenitude, o amor entre um homem e uma mulher estará castrado, não alcançará suas possibilidades totais e trará mais frustrações e sofrimentos do que júbilos a ambos.
O Beijo de Klimt

   Nunca Júlia se sentiu tão identificada à sua “alma gêmea” e isto a levou a um sonho assim: Estava novamente na parada do ônibus e quando fez sinal para que o motorista que conduzia à orla marítima a levasse, este a advertiu: Este não o levará a quem queres! Deverás ir ao Campus!  Nunca um despertar lhe trouxera tanta alegria. Possuía agora a chave do seu dilema. Conseguira achar o espaço onde encontraria o seu homem.

   Sem por limites à sua fantasia, concluiu que o motorista do seu sonho deveria ser uma daquelas entidades que ela supunha viver em algum plano transcendente e cuja finalidade única de existir era auxiliá-la em suas metas.

   Por acaso ocorreu-lhe alguma vez o mais simples: por um anúncio em jornal comunicando haver achado a monografia?  Não. Não lhe ocorreu.  Isso, aliás, não combinaria nem um pouco com o seu modo de ser. Preferia mesmo continuar conduzida por seus sonhos. Atraiam-lhe coisas que ultrapassassem as fronteiras da razão. O desvendar daquele mistério, através dos esforços de seu subconsciente lhe parecia muito mais excitante. E, foi compensada.Veio por fim a noite que sonhou ter chegado ao Campus.  Ali, lembrou-se que o seu amado escrevia com muita fluência e que por seu estilo deveria pertencer aos estudos humanísticos. Como aluno ou professor seria naquele setor que o encontraria e assim restringiu em muito a área de sua busca. Finalmente, ainda em sonho, foi até a Faculdade de Letras e viu afixado na porta um enorme cartaz que dizia: Concurso de monografia. Tema: Quem sou eu? Seguia-se uma lista de professores inscritos e ao lado do nome, Gabriel Alencastro, um lembrete a lápis vermelho: Impedido de participar.

  Só nesta ocasião, absolutamente convicta de que Gabriel Alencastro era o seu homem, que Júlia conseguiu passar do terreno quimérico dos sonhos para o da realidade. Resolveu procurá-lo. Na verdade, partia ali da estaca zero. Contava apenas com um papel sem assinatura em mãos,  porque o resto, todas as indicações que possuía, vinham apenas de sonhos. Porém, lembremos,  Júlia era alguém para quem a fantasia era algo muito consistente, portanto nem chegou a questionar a validade daquilo tudo.

   E Gabriel Alencastro? Afinal existia? Sim. Era ele mesmo. Sem ter uma cópia do escrito que fizera, tomara o ônibus do Campus exatamente minutos antes de esgotar-se o horário do concurso. Ao querer apresentar-se, constatou que perdera a monografia e está visto também a chance. E, que tal era ele? Velho, estrábica, barrigudo?  Nada disso.  Correspondia com perfeição ao que Júlia ideara pra ele: Jovem e charmoso. Amou Júlia e ela amou-o. Afinal, vamos permitir que no mundo de Júlia o romantismo tenha lugar; que as suas imaginosas fantasias consigam uma solução inusitada para coisas que parecem impossíveis de serem concretizadas. Que ela encontre enfim aquilo no que acredita: Possuir uma “alma gêmea".



                                                                Da vó

                                                     Porto Alegre, janeiro de 2012.